“Nossa, que lindos! Que raça que eles são?”
Acho que essa é uma das frases mais comuns que mais ouço quando passeio com a Frigga e o Thor. E daí, logo que respondo que são dois “SDS” (Só Deus Sabe), vem a segunda frase mais comum:
“Nossa, nem parece!!”
E daí vem os meus questionamentos mentais: “O que é um cachorro de raça afinal?” ou, melhor ainda, “O que difere um cachorro sem raça definida (SRD – ou SDS, hehehe) de um cachorro “de raça que não tem pedigree?“.
Por que tanto “precãoceito” afinal?
O próprio nome que é dado para os pobres caezinhos abandonados já é carregado de preconceito. Por que vira-lata? Porque quando famintos, eles normalmente são vistos procurando alimentos desesperadamente, revirando tudo o que encontram pela frente.
E por fazerem isso e andarem nas ruas sem um lar, também ficam sujos, com pulgas, carrapatos, vermes e todo tipo de doença que as ruas trazem também. E ficam “feios” e “sem raça” para os padrões de “beleza canina”.
E isso só muda quando uma alma caridosa oferece abrigo para um peludo que só está nessas condições por não ter a sorte de cuidarem dele. E é aí que entram as ONGs e protetores independentes que tem um papel fundamental nesse mundo cruel de animais abandonados.
Além da raça, a idade influencia no precãoceito também
Uma coisa temos que admitir: todo filhote de cachorro é fofo! Vira-lata ou não, aqueles pequenos são sempre a coisa mais linda do mundo!
E daí o que acontece nas feiras de adoção? Normalmente os filhotes são os que saem primeiro com um lar. E os cães adultos e mais velhinhos normalmente são jogados para escanteio, chegam a passar meses esperando por um lar (e muitas vezes até vão para o céu dos cachorros sem nunca serem adotados =().
E por mais que as protetoras dêem o máximo de si para cuidar dos peludos, todos sabemos que eles são muitos para cuidar de forma adequada e os deixarem “com raça” para as pessoas adotarem sem preconceito.
Quando a Frigga foi encontrada por nós na feira de adoção, ela estava encolhidinha no canto da gaiola, com uma expressão triste e desanimada, com aquele pelo duro e compridão. Nem dava muita bola para quem passava (e as pessoas idem), acho que de tão enjoada de feiras que estava (pelo que nos disseram, ela estava há cerca de 6 meses para adoção).
Do lado da gaiola dela, estava o Thor. E ele era o “rei supremo” da feira naquele momento, já que era o único filhote disponível naquela hora. Todos que passavam, faziam carinho, falavam com ele… e quem não dava bola para ninguém era ele, como se estivesse esnobando – (certo, ele faz isso até hoje para desconhecidos que não tenham um petisco na mão! haha).
A Ana se apaixonou imediatamente pela Frigga, que pulou de uma forma no colo dela que foi lindo de ver. As duas ficaram ali, abraçadinhas, enquanto a Frigga abanava timidamente o rabo. Mesmo aconchegada, ela não parecia ter muita esperança, mas tentava aproveitar o máximo de carinho que conseguia.
A história de como eles se deram bem logo de cara já foi contada aqui, mas assim que chegamos em casa percebemos como a vida dela tinha sido difícil até então. A Frigga era super desconfiada, tinha medo de chegar perto e se assustava com qualquer tom de voz mais alto. Nós oferecemos carne fresca para ela, mas ela não pegou da mão, só do prato de comida.
Com bastante paciência, carinho e atenção, ela foi perdendo esse medo aos poucos. Fizemos a ressocialização dela com outros cães e pessoas, enchemos ela de mimos e carinhos e hoje ela nos empurra pra ficar com a maior parte do sofá.
O pelo dela continua duro e ela continua com o bigode espetado, mas quem liga? Ela não se parece mais com a cadelinha negligenciada e assustada de antes, e agora se aconchega, pula na cama, no sofá, no nosso colo. E ela tem um charme único, uma capacidade de demonstrar felicidade e apego melhor do que qualquer cão de raça.
Com cuidados, carinho e muita paciência, é possível “transformar” cães abandonados e deixá-los tão bonitos, carinhosos e leais quanto quaisquer outros. E a recompensa disso é o amor incondicional que eles nos dão e ensinam, todos os dias.
E vocês? Também já fizeram esse tipo de pergunta quando passeavam com seus cães? Mande a sua história para cá para assim tentarmos mudar esse preconceito tão grande que existem com os cães abandonados.
🙂